quarta-feira, 17 de julho de 2013

Prole – Quarta Parte

Caramba, desde 2009 que eu não publico uma continuação do conto – que está virando uma novela – “Em Busca do Conhecimento – Prole”. Também foram três anos de faculdade, que me exigiam tempo integral de dedicação, junto com meu trabalho, o que dificultou, e muito, alguma publicação ou mesmo escrever alguma parte a mais de Prole.

Para se orientar e saber um pouco mais, ou mesmo recordar (pois recordar é viver!), leiam a primeira, a segunda e a terceira parte novamente, antes de ler essa nova! Boa leitura para todos!

Colonos italianos chegando na Hospedaria de Imigrantes

Durante todo o almoço, Miguel parecia vidrado em Minerva, enquanto Joshua se entretia conversando com seu bisavô, que nunca conhecera, nem mesmo por fotos:

-... E quando nós chegamos aqui, eu ainda era uma criança de fraldas. Vim a conhecer Ceres quando estudávamos no primário. Ela veio a mim quando tínhamos dez anos e me falou: “Você será meu marido!”, parecia determinada e era isso que gostava nela. Quando crescemos, meus pais me enviaram à capital, para completar meus estudos, quando retornei, nos casamos e montamos família. Acho que é isso!

- Então o senhor é um legítimo italiano? Pensei que tivesse nascido aqui. – Retrucou Joshua.

- Não, meu jovem. Vim com minha família para a cá. Desembarcamos no Porto da capital e com uma enorme caravana, viemos para este lugar, onde fundamos a primeira colônia de italianos... Ah, agora precisarei traduzir para os nossos amigos italianos.

- Se non si preocupa, farei isso pelo senhor. – disse Giácomo, e enquanto ele falava com seu irmão e Miguel – que entendera, mas precisa continuar se submetendo a traduções -, Joshua permanecia a conversa com seu bisavô:

- Para mim, é simplesmente maravilhoso conhecê-lo. Meus avôs sempre falaram da chegada dos imigrantes no estado, mas nunca pensei que conheceria algum de vocês...

- Por que não? Tudo bem que foi no século passado, mas vieram muitas crianças com seus pais, então a possibilidade de vir a me conhecer e a minha esposa, além de muitos outros que aqui residem, era bem possível.

- É verdade. – Joshua disse, sem pensar. – Ainda bem que tive a idéia de virmos para cá.

- Eu pensei que haviam vindos para a cá, por causa de vosso primo. Pois ele queria saber para onde seus descendentes haviam vindos. – Percebendo que cometera um erro, Joshua enrubesceu, mas deu sorte, pois as filhas de Enéias haviam descido. – Ah, as flores da minha vida. Minerva, sabia que estes jovens falam inglês? – Com um belo sorriso em seu rosto, ela respondeu:

- Sim, eu percebi babbo. – Joshua e Miguel trocaram olhares, enquanto ela os observava. – Estou indo à casa de Cassandra, ver uns materiais de estudo. Será que alguns dos senhores poderiam fazer companhia a esta jovem dama?

- Minerva, sabe que não é certo... – Mas ela interrompeu o pai, falando em italiano.

- Il signore Miguel, mi poteva accompagnare, se non ti disturba? 59 – Miguel abriu um largo sorriso e se levantou, respondendo.

- Sarà un grande piacere di accompagnarla. – Olhou para Joshua, que aparentava reprovar, - Se tuo padre per permettere, naturalmente.60 – Terminou dizendo, olhando diretamente nos olhos de Enéias.

- È la non certezza, - viu que a filha lhe olhava com suplica. - ma se il desiderio di mia figlia, mi fido di lei, il signore Miguel. 61

Quando ambos saíram pela porta, Miguel perguntou:

- Dove questa è la casa della sua amica?62 - Parando a frente dele, Minerva lhe olhou com seriedade e falou, em inglês:

- I know very little of this language, but enough to understand that you are not here! 63

- I do not know what you're talking about! 64 – Respondeu Miguel, virando as costas para Minerva. Ela andou graciosamente para frente dele:

- Of where you it’s? Or better, of where you they are? You and it’s cousin… 65 - Aquilo estava constringindo Miguel. Ele sabia que se falasse em português, se denunciaria, por causa de seu modo de falar, além de sentir um a certa atração por aquela jovem, que ele sabia não poder acontecer nada, pois ela era sua tia-avó. Queria que Joshua estivesse ali, para ajudá-lo. Foi então que pensou, esta era a idéia dela, separar os dois. Com certeza, percebera que Joshua era o “cabeça” dos dois e separando-os, conseguiria descobrir o que desejasse. Aquilo fez com que Miguel crescesse em determinação e num jogo de esquivas, ele seguiu seu caminho, esperando que ela lhe mostrasse para onde ir. Percebendo que não conseguiria que ele falasse, Minerva se prontificou a ficar à sua frente, levando-o até a praça da cidade:

- So che stai nascondendo qualcosa e non mi dice, ma io sono molto persistente. 66 – Ela disse, ao se sentar em um banco. Miguel permaneceu em pé, tentando manter sua impassividade. A praça parecia estar deserta, possivelmente as pessoas se preparavam para o almoço.

- Che cosa vuole di me? 67 – Ele terminou perguntando, sem esperar uma resposta agradável.

- Desidero la verità! 68 – Ela respondeu. Seus olhos pareciam duas fontes de brilho verde e apaixonante. A mente de Miguel lhe dizia que ela era sua tia-avó, mas seu coração parecia não se importar, como se fosse seu destino cruzar o caminho daquela jovem e ela o dele:

- La verità? Minerva credere che non si creda la verità ... Scherzi! – Sentou-se ao lado dela. - Le cose non sono così semplici, se sai cosa voglio dire. Non importa quanto mio cugino Joshua parlare con me su di esso, ancora non ci credo, anche. 69

Minerva olhava profundamente nos olhos castanhos de Miguel. Acreditava no que ele dizia, mas algumas coisas estavam inexplicadas:

- Joshua? Ma il nome del relativo cugino non è Josué? 70 – O rosto de Miguel enrubesceu e Minerva percebera a mudança de tonalidade na face dele. Miguel sentia seu rosto aquecer e não sabia o que dizer. O silêncio pairou durante alguns segundos, até ser quebrado por Minerva. – Você fala português, Miguel? – O olhar questionável de Minerva fazia o corpo de Miguel esquentar, ao ponto dele sentir um incomodo calor. Se ele falasse qualquer coisa, ela perceberia que ele entendera o que falara. Sentiu novamente a falta do primo. Então veio algo a sua mente. Sabia que se falasse aquilo, as coisas seriam bem piores, mas na falta do que dizer e com medo que ela o argüisse mais, falou:

- Già avete letto il libro “La Macchina del Tempo”? 71 – Acreditando que Miguel não entendera seu questionamento, Minerva respondeu:

- Sì, ho letto questo libro di recente. Si tratta di un ottimo libro…72

- Eu o vi em DVD! – Minerva tomou um susto com a resposta. Estava intrigada com aquilo e ao mesmo tempo assustada. Não entendera a última palavra, mas percebia que Miguel a compreendia muito bem.

- Você fala português? – Ela gaguejou. – Entendia tudo que os outros falavam? Por quê? Por que escondeu isso de nós, Miguel? – Os olhos de Minerva se marejavam de nervosismo. Ela estava assustada, intrigada e nervosa. Eram sentimentos mútuos que rondavam sua cabeça, quase a deixando incontrolável.

- Sim, eu entendo português, mas não pretendia enganar ninguém. Nem você, nem sua irmã e muito menos seus pais, muito menos Giácomo e Giancarlo. – Miguel estava com vontade de enterrar a cabeça no centro do parque, como um avestruz. “No que você me meteu Joshua!”, ele pensou. – O lance é que nem eu e nem meu primo somos daqui, ou melhor, não somos deste tempo, entende?

Aquilo parecia mais intrigante ainda, mas a primeira reação de Minerva foi:

- Você está brincando comigo? – Ela começou a ficar nervosa, à medida que falava com ele. – Quer dizer que vocês viajaram no tempo? E onde está a máquina de vocês, hein? Encontraram algum Morlock ou quem sabe um Eloi?...

- Olha, sei que não deve ser fácil... Pô, até agora nem eu entendo. Não tem exatamente uma máquina do tempo, é um tipo de portal, que leva as pessoas para outros lugares. Antes, eu e Joshua fomos pra um lugar muito doido, aonde todo mundo falava de trás para frente. Loucura pura! Agora viemos pra cá, pois o Joshua queria conhecer nossos parentes, com quem não teve muito contato na infância... Dá pra entender? – Minerva prestava total atenção em Miguel e quando ele terminou, ela começou a rir. – Do que ‘cê tá rindo?

- Seu jeito de falar, – ela disse entre o riso. – é muito estranho. – Aquilo deixou Miguel desconfortável: “Maldita hora pra contar a verdade.”, ele pensou. Mesmo com a risada dela, Miguel estava encantado. Era uma risada gostosa e prazerosa. Esperou que ela terminasse e quando isso aconteceu, começou a falar:

- Terminou de tirar uma com a minha cara? Então, acho que tu entendeu o que eu quis falar com aquele barato todo, não?

- Olha, pelo jeito que você fala, com certeza não é daqui, mas viagem no tempo? Não acha que está delirando, Miguel?

- Acredite Minerva, bem que eu gostaria de tá brincando, mas num to não. – E começou a contar a ela toda a história, somente dispensando dados relativos à descendência dele e de Joshua e a ligação sanguínea entre ele e Minerva, coisa que ele não queria acreditar que existia.

- Este seu relato é fantástico, beirando o delírio. Então Josué, ou melhor, Joshua tem um amor em outra dimensão, sendo que esta é neta do professor dele? Percebes a loucura do que me diz?

- Minerva, vai por mim, ninguém acha isso mais louco do que eu, mas é a verdade. Quando fomos para Aiarp, nunca imaginaríamos que algo tão louco aconteceria. Vivemos entre eles durante três meses e só ficamos sabendo disso no final de nossa estadia, e foi o próprio Joshua que chegou a esta conclusão, enquanto se encontrava em cárcere. Quando voltamos, ele tentou contar ao professor dele, sobre o fato, mas não rolou, pois o cara só queria saber de fatos ligados a cultura do local e à forma de vida de lá...

- E por que vocês vieram para a cá? Por que não retornaram ao tal local?

- Ah, isso é coisa do Joshua. Ele disse que seria quase impossível termos certeza da época em que havíamos chegado em Aiarp, por isso preferiu vir pra cá.

- Com qual objetivo?

- Oras, conhecer nossas origens, onde nossa família morava e tudo o mais. Como eu disse, Joshua não teve muito contato com nosso avô, então ele veio conhecê-lo.

- Se for verdade, o avô de vocês é jovem ainda, e desde que chegaram, somente estiveram conosco. Quando vós ireis procurá-lo?

- No momento estamos ajudando Giácomo e Giancarlo...

- Ajudando com o quê? Giácomo fala português muito bem, pode cuidar do irmão... Ah não ser que tenham um interesse a mais... Então, qual deles é o seu avô? – Miguel ficara constrangido com o questionamento.

- Você tá indo muito além do que é verdade. – Disse ele, taxativamente. – Só estamos ajudando Giácomo e Giancarlo, nada mais. Se eles fossem mesmo nossos parentes, estaríamos atrás deles, não seria um encontro acidental na estação de trem.

- É, tu tens certa razão nessa avaliação. Bem, quando decidirem procurar seus avôs, eu gostaria de ir junto, se for possível.

- Acho que não vai rolar. – Disse Miguel, com um ar de mistério. – ‘Cê já tá sabendo muito, na verdade, acho que Joshua vai querer me trucidar quando ele souber que a deixei a par disso tudo. Pô, foi uma loucura quando Giácomo descobriu, imagina quando ele souber que ‘cê sabe...

- Mas como Giácomo ficou sabendo?

- Ele nos pegou conversando em português.

- Então existe uma diferença, você me contou, eu não o peguei conversando com seu primo... – Miguel levantou de onde estavam e estava em polvorosa.

- Pior ainda. – Ele disse, ficando-se a frente dela. – Quando ele souber que lhe contei de livre vontade, vai querer me trucidar. – Aquilo parecia um absurdo, ainda mais pelo porte físico dele e do primo, mas sabia que Joshua poderia simplesmente transformar o resto da estadia de ambos num verdadeiro inferno.

Minerva se pôs de pé diante dele, a diferença de altura de ambos era bem perceptível. Ela lhe tocou o rosto preocupado com sua mão macia, segurou pelo queixo e disse:

- Me beije? – Aturdido, ele pela primeira vez ficara sem reação:

- Como?

- Eu quero que você me beije. – Os olhos dela cintilavam um brilho inebriante. – Será que existe algo que o impeça de fazer isso? – “Na verdade tem.”, ele pensou:

- Mas se alguém nos pegar? Tudo bem que na nossa época isso não era problema, mas nosso nonno sempre dizia que as moças não podiam beijar rapazes, pois era um afronta a família da moça e... – Os lábios de Minerva tocaram o dele, suavemente. Ela ficara na ponta dos pés para cometer o ato de beijá-lo.

O beijo dela era quente e confortável. Nada mais passava pela cabeça de Miguel, só queria aproveitar aquele momento. Esquecera tudo, somente se preocupava em sentir os macios lábios dela sobre os dele. Na medida em que ela ia deixando de ficar nas pontas dos pés, ele abaixava o próprio corpo, sem deixar de tocá-la nos lábios. As mãos dela seguravam delicadamente o rosto dele, enquanto ele tocava os longos cabelos negros dela, que passavam pelos seus dedos. O mundo havia parado, mas de repente voltara a se movimentar. Abrindo os olhos calmamente, ele sentia aquela sensação viciante que esquentava seu corpo e gaguejando disse:

- Por que fez isso?

- Porque você fala demais. – Ela respondeu. – E eu queria beijá-lo. – Quando terminou de abrir os olhos, Miguel tinha certeza que uma aura de luz iluminava Minerva, como se ela fosse uma divindade. O cheiro dos cabelos dela lhe davam uma sensação de prazer espiritual.

- Se nos pegam. – Ele se curvou para tocá-la nos lábios novamente. Ela sorriu e concordou com o beijo, que fora menos duradouro que o anterior. – Eu esqueci do mundo agora. – Ele terminou dizendo.

- Então somos dois. – Ela o abraçou como se quisesse apertá-lo. – O que faremos agora?

Traduções (Via Google Tradutor):

60 - Será um grande prazer para acompanhá-la. [...] Se o seu pai para autorizar, é lógico.

61 - Não é o certo, [...] mas se for o desejo da minha filha, eu confio nela, senhor Miguel.

62 - Onde esta é a casa de sua amiga?

63 - Eu sei muito pouco dessa linguagem, mas o suficiente para entender que você não é daqui!

64 - Eu não sei do que você está falando!

65 - De onde você é? Ou melhor, de onde eles são? Você e seu primo...

66 - Eu sei que você está escondendo alguma coisa e não quer me contar, mas eu sou bastante persistente.

67 - O que você quer de mim?

68 – Eu quero a verdade!

69 - A verdade? Acredito Minerva que você não acreditaria na verdade ... Sério! [...] As coisas não são tão simples, se é que me entende. Não importa o quanto o meu primo Joshua fale sobre isso comigo, eu ainda não acredito, também.

70 - Joshua? Mas o nome de seu primo não é Josué?

71 - Você já leu o livro "A Máquina do Tempo"?

72 - Sim, eu li este livro recentemente. É um livro muito bom...

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