terça-feira, 15 de junho de 2010

Contos do Móris: Meu irmão

Nossa, fazem três meses que eu não apareço por aqui, ou melhor, desde que comecei minha faculdade.

Pois é, tem sido complicado, mas gostoso, pois estou fazendo algo que é quase um sonho, estou estudando para dar aulas de História. Só que não vim até aqui para falar disso.

Bem, quase todos que vêm aqui veem meus contos publicados, pois esta foi uma forma que arranjei de disponibilizar o que gosto de escrever para aqueles que gostam de ler. Só que, não sou somente eu o escritor, filho da Sra. Aédyla e do Sr. Armando, mas também o outro filho deste casal, meu irmão, Armando Rogério Brandão Guimarães Junior (UFA!).

Desde pequeno meu irmão demonstrou talento para escrever, também era um – quase – mini-gênio. Sacava tudo e entendia tudo muito facil. Logo se destacava entre seus colegas. Um verdadeiro nerd! Pois bem, este meu irmão “caçula” (mas mais alto do que eu!) decidiu me prestar uma homenagem dupla. A primeira eu não contarei, mas acredito que um dia ele conte quando o livro for publicado, mas a segunda é um conto sobre minha pessoa. Com autorização dele (lógico!), eu disponibilizo aqui para vocês “Meu irmão” (obrigado irmão!):

Meu Irmão

O meu melhor amigo definitivamente é  meu irmão, sem desmerecer as amizades que fiz ao longo de minha curta vida, mas suportar tudo que eu fiz com ele e ainda me chamar de irmão, tem que ser muito amigo!

Quando digo que ele me chama de irmão é no sentido literal da palavra, ele nunca me chamou pelo nome, sempre só me chamou de irmão, alguns podem pensar que isso seria pra facilitar, assim se tivéssemos vários irmãos, não precisaria de decorar os nomes de todos, mas não é esse o caso, somos só nós dois, quer dizer, tenho um outro irmão caçula que tenho pouco contato, mas depois conto dele.

Não aprontava com meu irmão por ele ter me feito de cachorro na escola, aprontava pelo simples fato de ser legal aprontar pra cima de alguém, coisa de espírito de porco mesmo.

Certa vez estávamos em casa numa boa, quando decidi que os óculos do meu irmão me incomodavam, são óculos de grau mesmo, ele tem hipermetropia e astigmatismo, alguns anos depois eu descobri que tinha miopia, acho que foi castigo divino, mas por implicância divina continuo não usando óculos. Pois bem, meu irmão depende dos óculos dele pra poder ler e etc. e por ter dois problemas o óculos terminava sendo muito caro e minha mãe sempre cobrou dele que cuidasse daqueles óculos com todo cuidado possível. Eu, incomodado com o mundo, peguei os óculos enquanto ele tomava banho e escondi dentro da estante, mas bem no fundo e atrás de um monte de coisas, onde ninguém pudesse ver. Quando ele saiu e se deu conta que os óculos não estavam onde ele tinha colocado com toda calma do mundo, começou a procurar em outros locais e somente quando não tinha mais onde procurar ele foi perguntar pra minha mãe que já ficou nervosa só de pensar no prejuízo, mas minha mãe teve a calma de pensar que se ele estava com os óculos antes do banho então tinha que estar dentro de casa.

Foi um tal de procurar debaixo das camas e nas gavetas, no chão, embolado na roupa e etc., que minha mãe começou a perder a calma e cobrar a localização com mais austeridade, meu irmão não era fácil de se fazer chorar, era capaz de tomar uma surra de cinto e ficar encarando minha mãe só pra peitá-la, mas dessa vez ele estava ficando desesperado, pois ele sabia que o que estava em jogo ali era muito mais do que uma surra.

Quando notei que a coisa tava ficando preta me propus a ajudá-los, e por sonseira minha fui direto procurar na estante, exatamente onde tinha escondido. Minha mãe ficou só de longe olhando o que eu fazia. Coloquei meus bracinhos miúdos e magrelos dentro do compartimento da estante e lá do fundo tirei os óculos e os levantei pro ar, como se eu tivesse achado uma pepita de ouro. Meu irmão, que era tão moleque quanto eu (1 ano e meio mais velho, lembram?), veio me abraçou e ficou lá me agradecendo com toda a pureza que uma criança podia ter naquela idade. Enquanto ele me abraçava eu vi minha mãe vindo por trás dele pra me pegar já com o chinelo na mão, não deu tempo de fazer muita coisa a não ser empurrar meu irmão pra cima dela e sair correndo pelo apartamento. O apartamento era (e ainda é) muito pequeno então não tinha muito que fazer a não ser correr pra dentro do meu quarto e fechar a porta pra ganhar um tempo. Logo que entrei no quarto fui pra debaixo da cama, e quando minha mãe entrou no quarto só ouvi meu irmão chorando gritando com ela que não poderia me bater, pois eu havia encontrado os óculos dele e que ela teria que bater nele também então. Acho que minha mãe se comoveu com o sentimento piedoso e puro do meu irmão, pois a única coisa que ela fez foi fechar a porta e avisar que eu não poderia sair de lá naquela noite a não ser pra jantar, meu irmão até tentou ficar no quarto comigo, mas minha mãe disse pra ele deixar de ser bobo e retirou ele do quarto. Fiquei lá, debaixo da cama, só imaginando como ela poderia ter descoberto tão facilmente minha armação. Quando me dei conta da minha besteira comecei a me morder o braço todo, como forma de me punir pra não dar tanto mole.

Semanas depois lá estávamos nós dois brincando sabe-se lá de que na frente de nosso apto, quando minha mãe aparece da janela e nos chama usando um tom meio agressivo. Fomos com calma pra dentro do apto, afinal de contas esse poderia ser o tempo que ficaríamos fora do castigo pelo restante do dia, eu ainda não tinha idéia do que eu tinha feito dessa vez, mas com certeza minha mãe havia descoberto. Quando entramos no apartamento ela nos chamou na cozinha e mostrou dentro da geladeira um vidro de catchup que estava virado na parte de cima da geladeira e por conta disso havia caído quase tudo dentro da panela de arroz e assim desperdiçado parte do nosso futuro almoço. A pergunta da minha mãe foi bem simples: “QUEM FOI?”, meu irmão tinha parado do lado dela e por conta disso estava de frente pra geladeira aberta eu estava do outro lado da porta aberta da geladeira e por conta disso não havia visto a cagada, minha mãe repetiu a pergunta pela segunda e última vez: “QUEM FOI?”. Os 3 segundos que se passaram pareciam 3 horas, então meu irmão assumiu a responsabilidade pela besteira e logo em seguida pediu desculpas para minha mãe que sem muito estardalhaço o mandou para o castigo e me liberou para voltar pra rua. Aquele dia meu irmão ganhou o meu respeito de uma forma que nunca mais perderia, aconteça o que acontecesse, a forma como ele assumiu a culpa, estando do lado da minha mãe pra mim era um feito único e nesse dia nem consegui mais ficar brincando na rua, fiquei lá sentado na beira da calçada pensando naquela situação, obvio que por muitas vezes nós saímos no tapa, e sem dó nem piedade eu sentava o braço nele, e apanhava dobrado, mas o fato do meu irmão ter assumido a culpa de algo que ele não tinha feito pra mim foi único, era eu quem tinha esquecido o catchup aberto na geladeira, depois de ter passado no pão pra comer, e meu irmão estava junto na hora e com certeza ele não mexeu naquele catchup, não sei se eu teria o mesmo castigo ou se teria sido algo mais enérgico. Depois que ele saiu do castigo fui contar pra ele que na verdade eu que tinha deixado o catchup aberto, a resposta dele me deixou com um sentimento de culpa maior ainda: “EU SEI.”, e não falou mais nada naquele dia, o fato de eu lembrar isso até hoje mostra o quanto isso me marcou.

Fonte: GUIMARÃES JUNIOR, Armando Rogério Brandão. Contos de Móris. Belo Horizonte: [s.n.], [2010?]. Paginação irregular.colonia-de-ferias

Um comentário:

Rodrigo Rocha disse...

André passei para conhecer seu blog ele é not°10, show, espetacular com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom